Friday, August 25, 2006

Léxico Analítico do Moiteiro Básico e Encartado - Letras A a E

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Directamente do Alhos Vedros ao Poder as primeiras cinco letras do LAMBE:
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Água - substância líquida com a qual se deve evitar todo o contacto quotidiano a nível pessoal, para além da mera observação. Apesar de alguns mitos urbanos qualificados de "científicos", a água não é essencial à vida, pois sabe mal e não deve ser ingerida em caso algum, devendo ser substituída por cerveja Sagres ou qualquer variedade de vinho tinto, aguardente ou uísque, para além de desgastar a pele se nela mergulharmos, o que poderá ser agravado pela utilização de sabão ou gel de banho. A única excepção ao contacto directo com esta substância é admitida nos meses de Verão, na praia, quando não apresenta risco molhar o pézinho até à canela, desde que se mantenha de braços cruzados e não coloque qualquer hipótese de mergulhar. Cuidado com a zona genital, pois qualquer salpico pode provocar esterilidade ou mesmo impotência prolongada. Os efeitos potencialmente devastadores de qualquer comportamento diferente que inclua a vaga possibilidade de entrar na água podem ser verificados a partir das urticárias galopantes e dermatites agudas que qualquer indivíduo que tenha mergulhado nas águas do Tejo na zona da chamada "pérola" do Rosário apresentará à vista desarmada.

Bosta - é a pedra filosofal do moiteiro encartado, o estado da matéria maravilhoso e mais valioso que qualquer metal precioso. Em estado líquido-diarreico é como a ambrósia, o antigo néctar dos deuses do Olimpo. Em Maio e Setembro, os odores bostíferos que emanam do alcatrão arenoso da Avenida em dia de largada é como que um retorno ao estado natural primevo, da comunhão entre homem e besta, sendo que no moiteiro são um só. A bosta é, como produção desse maravilhoso organismo que é o intestino do boi - o animal sagrado que também aqui deveria merecer um artigo - o estado mais elevado da matéria orgânica. Um moiteiro feliz é um moiteiro embostado até ao pescoço. Pena é que as lezírias moiteiras de outrora, que se estendiam de horizonte a horizonte, que é como quem diz da ribeira da Moita à ribeira das Enguias, estejam agora ocupadas com outro tipo de bosta, mais acinzentada e respondendo ao nome de betão - olha uma letra B para o nosso Vocabulário Actual da Gestão Autárquica Moiteira - e que faz com que os bovinos agora em circulação pela capital do concelho sejam quase só os bípedes, infelizmente incapazes de fazer uma bela bosta orgânica à moda antiga, apenas a conseguindo substituir pela bela e verdejante escarreta. A vantagem, contudo, é que os actuais são bem mais fornidos de enfeite chifral.

Carro - para o verdadeiro moiteiro encartado o seu veículo automóvel é uma segunda natureza, a sua verdadeira cara-metade, aquilo que ele ama mais do que a própria família, o seu ai-jesus se lhe fazem um risco na chaparia. O que é estranho, atendendo à frequência com que se espetam em acidentes mais ou menos estapafúrdios. Mas é verdade, o moiteiro adora o seu carrinho, seja um bom e velho Uno ou seja um espada todo turbo-diesel, cheio de extras, mesmo que isso faça com que a família só possa comer salada de atum com batata e duas gotas de azeite no resto do mês, para pagar a prestação. É uma segunda pele que só não se leva para a mesa do café, porque o carro tem dificuldade em sentar-se nas cadeiras. Se for numa esplanada, o moiteiro deixa-o ali à beirinha, à babuge, mesmo em cima do passeio, se possível atravessado a ocupar dois lugares, que é para o coitadinho não sentir claustrofobia. Se vai à Caixa, o moiteiro leva o seu carrinho até à porta da dita, espreita por um lugar vago, mas mesmo havendo-o estaciona em cima do passeio se a manobra se afigura de algum esforço. Se vai às Finanças a seguir, não vai a pé. Volta ao carro e avança estacionando à sombrinha, mesmo frente à entrada, a menos que outro moiteiro já lá tenha chegado antes. Nesse caso protesta. Se vai ao Modelo ou encosta o carro mesmo ao supermercado, na faixa destinada ao trânsito ou ocupa um lugar de deficientes que é o que fica mais próximo e sempre tem a sua lógica. Se vai à Praça, na falta de espaço ou passeio, deixa-o em segunda fila. Se é a mulher que vai buscar as couves, fica com o carro de porta aberta para o lado do trânsito, a falar com o Manél que está do outro lado da rua e grita com o mesmo empenho que ele para se fazerem ouvir por toda a vizinhança. O mesmo método serve para quando se lembra de procurar qualquer coisa no carro: abre sempre, mas sempre, a porta do lado da faixa de rodagem, e nunca a do lado oposto, espeta a cornadura para dentro do automóbil e o traseiro para todos apreciarem, na esperança de ser corneado. Em casa, mesmo que tenha garagem, estaciona do lado de fora, porque transformou a garagem em sala de visitas ou em oficina para biscates. Em plena estrada nunca usa os piscas, para não gastar o sistema eléctrico, e nunca muda de velocidade, havendo duas variantes neste caso: os mais novos, de sangue no toutiço, que só sabem andar sempre em quinta mesmo se o semáforo está vermelho no cruzamento do Juncalinho ou se os outros têm prioridade na rotunda da BP e os mais velhos, que só andam em 3ª e na faixa da esquerda em pleno IC32, que é para a deslocação de ar não levar o capachinho ou os cabelinhos atravessados sobrea careca e colados com cuspo na falta de margarina. Mas há que admiti-lo, a relação do moiteiro com o seu carro é das coisas mais românticas e comoventes desde os tempos ancestrais em que o homem inventou a roda, é algo só equiparável à paixão entre Tristão e Isolda e Abelardo e Heloísa, só não sabendo no caso desta analogia quem é o macho que ficou com a masculinidade amputada, pois o moiteiro tende a comportar-se de forma algo efeminada quando assacode a poeira do capô com o lenço, assim com um movimento de pulso que coiso e tal.

Delicadeza - por muitos defeitos que o moiteiro tenha, este é um dos que não tem com toda a certeza, certezinha. O moiteiro é muito macho, é gajo de voz grossa, capaz de enfrentar um touro numa largada do alto da janela do 2º andar ou mesmo de ter andado na Escola de Toureio onde costumavam apalapar a fruta aos miúdos para ver se estava madura, mas isso agora não vem ao caso, já está tudo esquecido. O moiteiro é homem de barba rija e essa coisas das delizadezas é para quem gosta de fazer panelas, ou gays como se chamam em Cascais. O moiteiro distingue-se por nunca baixar a voz em situação alguma, por forma a ser bem ouvido por todos, esteja num velório ou a falar ao telemóvel; destaca-se ainda do vulgo por uma peculiar qualidade que é de usar basto chaveiro preso à presilha (mas que bela aliteração) das calças, que chocalha com vigor quando se desloca para se fazer anunciar ao povinho. Quando é obrigado a ficar parado e o chocalho perde ímpeto - quando está na fila para o Correio, as Finanças, na EDP, na mercearia da esquina ou no café - desprende o chaveiro em causa e chocalha-o manualmente com alegria, para gáudio de todos os que o rodeiam. O moiteiro nunca pede desculpa pois tem sempre razão. Atropelou uma velhota em plena passadeira? A culpa é "do raio da velha que já não devia andar na rua"! O canídeo acabou de urinar alarvemente as rodas de um carro alheio e de defecar com jactância um belo volume fecal em pleno passeio fronteiro à porta da habitação de outra pessoa? Então o que há a fazer, "queria que o cão não cagasse, é?". A aparelhagem está em altos berros à meia-noite a ouvir o último cd do Eros Ramazotti ou da Celine Dion? É porque "cá em casa todos gostamos de música de qualidade a qualquer hora e ninguém tem bada a ver com isso, olha não queiram lá ver?". No supermercado acotovela toda a gente para se chegar à frente primeiro na fila de espera da peixaria? "É porque tenho vida, não sou um desocupado como vocês!" Por tudo isto, mas muito mais, o moiteiro distingue-se da vulgaridade dos delicadinhos pretensiosos e eleva-se aos cumes da afirmação pessoal de quem é como é, com todo o orgulho em sê-lo e quem não se sentir bem a vê-lo coçar alegremente a genitalia de pername aberto na esplanada é melhor ir dar uma volta que a Moita não é terra de gentre frouxa. É tudo malta capaz de ganhar um concurso, em recinto coberto ou em pista, de escarreta a longa distância, venha quem vier.

Erotismo - um dos pontos fortes do moiteiro-macho, criatura que deita testosterona por todos os poros e feromonas numa quantidade tal que, misturado com um atractivo cheio a suor requentado, é capaz de deixar qualquer elemento da espécie vacuum, digo, do género feminino sem capacidade de resistência num raio para aí de uns 15 mm. Mas para além desses atributos naturais que, só por si são esmagadores, o moiteiro tem ainda um savoir-faire de experiência feito na maneira como lida com as mulheres e que o torna, nas suas próprias palavras, um engatão do caraças, capaz de pedir meças a qualquer Zezé Camarinha dos Algarves. Para começar, a preparação do aspecto físico é algo fundamental e em que o moiteiro chega a perder 20 segundos de manhã, enquanto veste a t-shirt de alças com furinhos no peito e a correntinha de ouro ou pechisbeque com o crucifixo ao pescoço, mais a calcita de ganga justinha ao material, com o chumaço bem puído de tanto ser coçado. E depois há o óculo escuro, para dar o ar misterioso, e o gel para amainar a melena. E depois é toda uma dinâmica corporal na forma como passa as horas sentado no café, de pername bem aberto para não entalar nada, e o modo lascivo como escurrupicha a imperial, deixando aquela espuma sensual nos pelos do bigode, lançando olhares em redor em busca de presa feminil acessível, a que ele carinhosamente chama as minhas gajas. A técnica da conquista é subtil e é exercida preferencialmente através do chamado dichote, ou dito espirituoso (és boa cum'ó milho já vai estando gasto e agora passou para o anda cá que eu até as fufas ponho a gritar por mais), lançado para o outro lado da rua quando vê passar desde a mais jovem pré-púbere à pós-balzaquiana mais arriada de maquilhagem que o David Bowie nos anos 70. É que com ele marcham todas, pois como espírito profundamente democrático que é, o moiteiro não é especialmente selectivo e qualquer uma que lhe dê um olhar piscoso, mesmo que seja por causa de uma fagulha nos olhos, de saltos altos e saia que mostre um naquinho de carne, conta como alvo a abater, tanto melhor se for casada com outro moiteiro, que ele não gosta de se sentir amarrado, mesmo quando é casado desde os 17 anos porque engravidou - foi um azar do caraças, pá, estava cá com uma pedra - uma colega da Escola em mil novecentos e setenta e coiso se for moiteiro já entradote nas idades, ou noventa e coiso se for moiteiro ainda com direito a cartão-jovem. De qualquer modo um gajo não 'tá paralítico e então, nos seus sonhos, depois de uma tarde de tramoço e minuins, o moiteiro sonha ter engatado este mundo e o outro, desde a Jolie - se eu a apanhasse é que ela sabia o que era um homem - até à Jennifer Lopez - eu partia aquela bilha toda - não esquecendo uma paragem rapidinha na Maria Albertina do 2º esquerdo que tem o Fanã na choldra e precisa de uns cobres para pagar a roupa dos miúdos.

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